L U T A S e m p a u t a ...: Um pouco de história da luta das mulheres
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08 março 2006

Um pouco de história da luta das mulheres


Como diz Maria Amélia de Almeida Teles (Breve História do Feminismo no Brasil, 1993) “falar da mulher, em termos de aspiração e projeto, rebeldia e constante busca de transformação, falar de tudo que envolva a condição feminina, não é só uma vontade de ver essa mulher reabilitada nos planos econômico, social e cultural. É mais do que isso.

É assumir a postura incômoda de se indignar com o fenômeno histórico em que metade da humanidade se viu milenarmente excluída nas diferentes sociedades, no decorrer dos tempos.”

Não sou feminista, sou pela união dos trabalhadores (de quaisquer sexos ou orientações, cores, etnias, nações) contra a burguesia e seu sistema de exploração capitalista. Mas, concordo que as mulheres devam continuar se organizando por suas reivindicações específicas no seio da luta de classes. Há milênios, além da superexploração no trabalho, já sofríamos formas de exclusão da vida política e de uma série de direitos civis.

Ainda hoje, mesmo que possamos votar, estudar, trabalhar e gozar de certos direitos democráticos, o que vemos é que do outro lado, no trabalho, as mulheres hoje são as mais exploradas e as menos respeitadas em seus direitos trabalhistas. Sem falar no trabalho doméstico e cuidado da família que, por mais que relutemos, acaba sob nossa responsabilidade, sem nenhum auxílio do estado.

Falando um pouco de história, a Revolução Francesa foi um dos primeiros grandes momentos de organização das mulheres, quando Olímpia de Gouges propôs a “Declaração dos Direitos da mulher”. Todavia, a revolução não lhes reconheceu os direitos políticos, sendo que a Primeira Constituição da República aprovou o sufrágio universal masculino. Com a restauração monárquica, em 1827, as mulheres receberam duros golpes com o fim do divórcio e o reemprego da palavra “madame” ao invés de cidadã. Elas se rebelaram e continuaram a se organizar. A partir de 1860 o movimento concentrou-se na atividade sindical, com vistas a alcançar melhores condições de trabalho. Louise Michel, filha de uma servente, começou sua vida de rebeldia participando da Comuna de Paris em 1871 e foi condenada a dez anos de exílio.

As inglesas, após avanços no movimento sindical, passaram a lutar pelos direitos civis e em 1880 empenharam-se principalmente em conquistar o direito de voto e em 1890 organizaram campanhas para eliminar as causas sociais da prostituição. As norte-americanas participaram dos movimentos de independência e antiescravista com suas reivindicações de direito ao voto. Em 1866 o parlamento decidiu-se pelo direito de voto dos homens negros, mas o negou-o a todas as mulheres.

Em 1893 o sufrágio universal feminino é conquistado pela primeira vez na Nova Zelândia e em seguida na Austrália (1902) e nos países da Escandinávia até 1919, quando é conquistado na Alemanha e Áustria. Em 1920 nos EUA seguido do Reino Unido em 1928. Na América Latina o primeiro país onde o sufrágio universal feminino foi conquistado foi o Equador em 1929, seguido do Brasil em 1932, do Uruguai em 1934, e da Bolívia em 1952, por ocasião da revolução que lá ocorria. E vejam que na França e na Itália, apenas em 1945; no Japão em 1946; Em Portugal e Espanha tardiamente, só em 1970 e 1977, respectivamente. Em 1913, na Rússia, sob o regime czarista, foi realizada a Primeira Jornada Internacional das Trabalhadoras pelo sufrágio Feminino.

As operárias russas participaram da jornada internacional das mulheres em Petrogrado e foram reprimidas. Em 1914, todas os organizadoras da Jornada ou Dia Internacional das Mulheres na Rússia foram presas, o que tornou impossível a comemoração. Alexandra Kolontai, dirigente feminista da revolução socialista escreveu sobre o fato e sobre o 8 de março, mas, curiosamente, desaparece da história do evento. Diz ela: " O dia das operárias em 8 de março de 1917 foi uma data memorável na história. A revolução de fevereiro acabara de começar". O fato também é mencionado por Trotski, dirigente da revolução, na História da Revolução Russa.

Nessas narrativas fica claro, que as mulheres desencadearam a greve geral, saindo corajosamente, às ruas de Petrogrado, no dia internacional das mulheres, contra a fome, a guerra e o czarismo. Trotski diz: " 23 de fevereiro ( 8 de março) , era o dia internacional das mulheres estava programado atos, encontros etc. Mas não imaginávamos que este "dia das mulheres" viria a inaugurar a revolução. Estava planejado ações revolucionárias mas sem data prevista. Mas pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixam o trabalho de várias fábricas e enviam delegadas para solicitarem sustentação da greve... o que se transforma em greve de massas.... todas descem às ruas".

Constata-se que a revolução foi desencadeada por elementos de base que superaram a oposição das direções e a iniciativa foi das operárias mais exploradas e oprimidas, as têxteis. O número de grevistas foi em torno de 90.000, a maioria mulheres. Constata-se que o dia das mulheres foi vencedor, foi pleno e não houve vítimas.