A Assembléia Popular do Povo de Oaxaca

No estado de Oaxaca, no México, a população vive uma situação insurrecional permanente, liderada pelo movimento dos professores. Até o momento, nem as manobras políticas nem a violência de uma “guerra suja” conseguiram deter o movimento.

O conflito de Oaxaca-México começou com uma reivindicação por melhores salários para os professores no dia 15 de Maio e radicalizou-se no dia 14 de Junho quando entraram nos protestos outros grupos da sociedade.

Formou-se então um órgão de poder paralelo, a APPO - Assembléia Popular do Povo de Oaxaca -http://http://www.asambleapopulardeoaxaca.com/, que representa os 70 mil profissionais do ensino do estado de Oaxaca e mais 350 organizações, comunidades indígenas, sindicatos e associações civis. A APPO passou a controlar os serviços públicos, as rádios e tvs, tomando o poder político da cidade desde 22 de Junho e exigindo a renúncia do atual governador. Ela é um órgão de poder paralelo ao estado burguês, semelhante aos sovietes ou conselhos que se formaram no período que antecedeu a revolução russa.

Oaxaca é um estado cheio de problemas sociais. Centro turístico do sul do México, sua geografia está rodeada por favelas alimentadas pelas remessas de trabalhadores imigrantes. Nesse território, estão na ordem do dia as lutas pela terra, os enfrentamentos com os caciques e os "coyotes" [pessoas especializadas em guiar imigrantes ilegais para os EUA], disputas pelas prefeituras, reivindicações étnicas, ações por melhores preços para os produtos do campo e resistência diante do autoritarismo estatal. A violência política contra os dissidentes que vêm se manifestando desde 15 de maio está na ordem do dia. O movimento transformou-se no vértice onde estão concentradas muitas das contradições sociais desse Estado.

Uma parte importante da sociedade oaxaquenha solidarizou-se com os professores. Não é raro que nesses movimentos participem professores. Mais do que isso, muitos deles foram organizados e dirigidos por líderes. O sindicato do magistério é a única força social democrática com presença em todo o território. É a única organização capaz de fazer sentir, de maneira coordenada e simultânea, seu peso político em todos os municípios do Estado.

Os professores oaxaquenhos trabalham em condições precárias, com poucos recursos pedagógicos. Seus alunos chegam às escolas com o estômago vazio e precisam abandonar as aulas para ajudar suas famílias nos trabalhos do campo. Não são poucos os que quase não conhecem seus pais, porque eles emigraram para os Estados Unidos. As salas de aula estão pessimamente equipadas. E para chegar às comunidades onde trabalham precisam investir horas e dinheiro em transporte por estradas que existem somente nos relatórios oficiais. Nessas condições, tem sido uma constante na história recente que os professores se identifiquem com as comunidades nas quais trabalham e que se transformem em lutadores não apenas dentro do seu setor, mas que sejam, também, porta-vozes das demandas comunitárias.